Valsa do Puro Lamento

Aqui vai o meu "poema" dedicado à nossa assembleia da república,
com muito respeito por alguns senhores...mais independentes!
Em breve a própria música do "poema"...num blog perto de Si maior.


Parlamento de uma nação,
ah! estás a dormir...
e a ler um jornal que chora.
deputados estão condenados
a não fazer nada,
mas serão bem promovidos.

Um bocejo,duas reformas
é o que eu vejo no canal do parlamento.
um insulto,gargalhadas
é o que eu oiço no canal do parlamento.

Assembleia estais reunida
para coçar o vagar e
a preguiça que lá existe.
Sr. deputado acabou seu tempo
de estar distraído...
tem alguém que vem suborná-lo...

Um bocejo,duas reformas
é o que eu vejo no canal do parlamento.
um insulto,gargalhadas
é o que eu oiço no canal do parlamento.

Promulgaram com satisfação
reformas de não andar,
para ficarem bem sentadinhos...

A Filarmónica do Gil,o Rock in Rio e mais algumas aventuras...

Esta semana tomei uma decisão arriscada numa altura em que não é muito fácil viver no oeste
da Península Ibérica...
Depois de ter co-produzido e gravado o próximo álbum do João Gil a solo
decidi recusar o convite de "ir para a estrada" com o mesmo projecto. Custou-me um pouco
porque gosto bastante das guitarras acústicas e dos baixos que gravei neste disco,mas temi
perder o prazer de tocar ao vivo(algo que já estava a começar a acontecer na Filarmónica Gil).
Também não me estava a apetecer nada que me voltassem a pedir para fazer o pino,sapateado,ler
os Lusíadas de trás para a frente e cuspir fogo. Claro que estas tarefas são possíveis de fazer,
mas confesso que todas ao mesmo tempo já não consigo. Perdi essa agilidade(ou então preciso
de descansar um pouco).Optei por encerrar mais um ciclo...
Desta vez não levei com areia no olhos,como aconteceu com o caso Silence4,
mas continuo a achar que os artistas desta região não são muito unidos(apesar de algumas aparências)
e estão a tornar-se cada vez mais uns engraçados burgueses. Algo que me deixou a pensar um pouco foi
o Rock in Rio.Pediram-me com muita educação que baixasse o "cachet" (ou as calças... já não me lembro!),
porque os brasileiros(esses marotos!) não pretendiam pagar muito aos músicos portugueses, optando até por
fazer pacotes de artistas... ou dos artistas um pacote(também já não me lembro bem... acho que estou a ficar
senil). Tenho consciência que vou pagar caro, mas este ano não vou... baixar as calças!
Rui Costa

"26 DE ABRIL DE 1974"

Nasci em Leiria e desde a minha adolescência me apercebi da importância de um cartão
de militante de um partido dominante(em Leiria sempre foi o psd).Cheguei a ser convidado
algumas vezes para fazer parte dessa juventude e fiquei sempre com a ideia que profissionalmente
isso ajudaria.Nunca aceitei nenhum dos "convites",embora tenha existido uma fase da minha vida
em que ponderei um pouco nessa possibilidade.Nessa altura uma empresa publica foi privatizada
e o meu pai entrou na lista dos dispensados.Por causa disso o único salário que entrava em casa
era o da minha mãe.Claro que tanto eu como a minha irmã tivemos de começar a ajudar no que
pudéssemos.O meu pai ficou muito abalado com essa situação(e acho que até hoje não se
recompôs)e a minha mãe "arregaçou as mangas" e;além do trabalho que tinha como cozinheira
numa escola pública,fazia limpezas nas horas extraordinárias.Com tudo isto vi o meu sonho de
me dedicar exclusivamente ao estudo da música(que sempre me apaixonou)ser completamente
adiado.Mesmo assim tentei perseguir esses sonhos e tentar controlar o mais possível a minha vida.
Claro que a minha família achou ridículo eu querer ser músico,mas cheguei à conclusão que preferia
morrer se o não fizesse...

Nasci em Portugal e agora olho para o país e para a minha cidade de uma forma ainda mais negra.
Hoje,e à custa de um povo completamente alheado de inteligência(na minha opinião,claro!),o país
vai alternando(tal como algumas senhoras em certos espaços nocturnos) entre duas forças politicas
que diariamente insultam toda e qualquer definição de democracia.Graças à nossa estupidez enquanto
povo e à esperteza saloia da nossa classe politica,Portugal tem evoluído muito pouco e não existe muita
margem de manobra para aqueles que o tentam mudar(e eu conheço uma história que aconteceu numa
instituição pública em Leiria que demonstra isso de uma maneira muito evidente e bastante triste).
Sempre que há eleições sou assombrado por imensas dúvidas:votar,não votar...votar em branco?!Ainda
não consegui chegar a um consenso que ao mesmo tempo não insulte as pessoas que fizeram a revolução
dos cravos.E desde que um certo politico ganhou umas eleições à custa de um encontro com o presidente
de um clube de futebol(mais uma vez a minha opinião) e depois de alguns discursos muito patrióticos toma
a decisão de não honrar os seus compromissos(invocando curiosamente razões patrióticas)cheguei à conclusão
que aqui tudo é possível.Existe um individualismo quase cego na nossa sociedade.Nem se trabalha para um bem
comum como nos países mais desenvolvidos da Europa.Fala-se muito na identidade do povo e sou constantemente
invadido por conversas de patriotismo,mas que(para mim)não passam de palavras completamente vazias e ocas.
Irritou-me bastante o exagero de panos verdes e encarnados nos telhados e automóveis desta aldeia.Enfim,as pessoas
têm todo o direito de o fazer,as também me sinto no mesmo direito de achar tudo isso ridículo.Para não falar da construção
daquelas enormes rotundas onde se pratica uma actividade desportiva.O povo é estúpido e acho que quanto a isso não há
nada a fazer.

Nasci no Oeste da Península Ibérica onde para ter um bom acesso à saúde,à justiça ou mesmo estudar(...música,por exemplo)
é essencial ter um evidente poder financeiro e os contactos necessários.Os políticos continuam muito intocáveis e sinto que de
dia para dia vou perdendo voz enquanto cidadão.Apesar de erros e de alguns crimes económicos é raro ouvir falar de um político
com bens penhorados.É a classe dourada com as costas sempre quentes.
Ainda tenho esperança de me dedicar exclusivamente ao estudo da música.Talvez no dia 27 de Abril arranje um cartão de militante
de um partido político.Viva Portugal!
Rui Costa

A minha alma na lupa,a mão na lupa ou mesmo amar na lupa...

Tenho uma gaveta cheia de música.Sempre compus por necessidade e não por objectivos.
Apesar de ter metade do meu pé direito(o meu melhor pé é o esquerdo!) nesta espécie de
industria que existe em Portugal(uma aldeia situada na Europa)nunca me consegui entregar
(ou integrar) completamente.Um dos meus grandes problemas é a parte social da coisa,da
besta.Tenho uma enorme dificuldade em não dizer o que penso realmente... a artistas,a editores,
a jornalistas.Muitas vezes o "namoro" com essas entidades é muito mais importante que qualquer
outra coisa.Perante este cenário pouco motivador encontrei um livro que me inspirou completamente
para continuar neste caminho sinuoso...
Encontrei a "Geometria Variável" de Nuno Júdice numa das minhas "viagens" a algumas livrarias.
O impacto que este livro teve em mim foi tão grande que durante duas semanas não consegui parar
de escrever música para os seus poemas.Depois comprei mais livros do mesmo poeta e a sensação de
liberdade foi aumentando.Começei a escolher deliberadamente os poemas mais dificeis de musicar.
Mesmo assim encontrava sempre melodias para aquelas palavras.Não consigo descrever o prazer que
este processo me deu.

A Sofia...

Nessa altura convidaram-me para produzir um album para uma cantora de nome Sofia Gaspar(que eu
conhecia de vista).Conversámos e a quimica que senti foi enorme,mas não me apetecia interromper
o que estava a fazer.Perguntei à Sofia se não gostaria de experimentar algo mais complicado...e bem
mais dificil de "colocar no mercado"...Ela aceitou!

Barcelona,Gaudi...e o próprio Nuno Júdice!

Por um enorme acaso a primeira apresentação do projecto Amanalupa foi em Barcelona,na Pedrera,
em novembro de 2006.Foi aí que que conheci o poeta que me tinha dado tanto!Estar numa das minhas
cidades preferidas,no interior de um edificio maravilhoso e ainda e conhecer o escritor que nos inspira
para construir algo que na nossa alma faz todo o sentido é...inesquecível!

O primeiro poema do Nuno que me inspirou para "encontrar a música guardada nestas palavras"... Braille...

Leio o amor no livro
da tua pele;demoro-me em cada
sílaba,no sulco macio
das vogais,num breve obstáculo
de consoantes,em que os meus dedos
penetram,até chegarem
ao fundo dos sentidos.Desfolho
as páginas que o teu desejo me abre,
ouvindo o murmúrio de um roçar
de palavras que se
juntam,como corpos,no abraço
de cada frase.E chego ao fim
para voltar ao princípio,decorando
o que já sei,e é sempre novo
quando o leio na tua pele.